“Esse
tempo de santo jejum a porta do céu nos abriu;
acolhamos
o dom do Senhor em contínua oração”.
Queridos amigos, o tempo litúrgico da Quaresma é um momento forte da vida da Igreja. Por suas origens de caminho de preparação para a Páscoa e sua marca batismal, que encerra uma série de valores espirituais celebrativos, mas também de propostas espirituais que têm uma estreita relação com o modo de conceber a dinâmica da vocação cristã no seu itinerário para a perfeição.
Origem e desenvolvimento: Desde o
final do século II existe na Igreja um período de preparação para a Páscoa,
medido por alguns dias de jejum, já segundo o testemunho de Eusébio de Cesareia
a propósito da controvérsia sobre a data da Páscoa. Ireneu teria escrito assim
ao papa Vítor: “A controvérsia não é apenas sobre o dia, mas sobre a forma
mesma do jejum. Alguns creem que devem jejuar apenas um dia; outros, dois;
outros, ainda atribuem a seu dia [jejum?] o espaço de quarenta horas diurnas e
noturnas. Essa variedade na observância do jejum não nasceu em nossos dias, mas
remonta a épocas bem distantes...” (Hist. Ecl. 5,24,12)
Esse jejum inicial apresenta uma
primeira estrutura de uma semana de preparação, especialmente em Roma, e que se
tornou depois três semanas, nas quais se lê o Evangelho de João, para se tornar
finalmente quarenta dias de jejum, inspirados nos quarenta dias que Jesus
passou no deserto.
Esse jejum de quarenta dias ia da
sexta semana antes da Páscoa até a quinta-feira antes da Páscoa. Mas como havia
no meio, seis domingos nos quais não se jejuava e porque queria completar o
número simbólico dos quarenta dias, ampliou-se o tempo, antecipando o início
para a quarta-feira anterior à sexta semana antes da Páscoa e se contaram os
dois dias de sexta e sábado antes da Páscoa, que eram na realidade dias de um
jejum todo especial, quase total, como parece indicar Hipólito na Traditio Apostolica.
Nesse empenho quaresmal que se torna
como um sinal sagrado, um sacramento do tempo, o “quadragesimale sacramentum”,
como ainda hoje se exprime a coleta do primeiro domingo da Quaresma, está
envolvida toda a Igreja, aqueles que se preparam para o batismo, os penitentes
que se reconciliarão por ocasião da Páscoa.
A comunidade cristã é chamada a esse
exercício de preparação que tem em primeiro lugar um caráter de renovação
espiritual no qual é preciso insistir especialmente no clássico trinômio: oração,
esmola (caridade), jejum como atestam os Padres em suas homilias.
Para a Igreja, a Quaresma é o memorial
de Cristo e é também um tempo propício para participar do seu mistério de
caminho para a Páscoa.
É tempo para viver a conversão, mas
sabendo que essa “metanoia” é sempre em confronto com Cristo.
Como dizia São Leão Magno, Papa, “aquilo
que cada cristão deve praticar em todo o tempo, deve praticá-lo agora com maior
zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar
quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do
pecado”.
Isso queridos amigos, a Serva de Deus
Maria Imaculada sempre insistiu com suas filhas para que guardassem com esmero
esse tempo favorável, esse dia de salvação; “recomendou-nos que oferecêssemos o
jejum - que hoje se inicia -, com o
máximo amor, para pedirmos a Deus, com o enfraquecimento de nosso corpo, o
vigor de nossa alma, e o aumento da prática de todas as virtudes”.
Queremos propor, queridos amigos, que
busquem nesse período trabalhar na virtude que mais está precisando. Paciência?
Perdão? Compreensão? Desapego? Disponibilidade? Generosidade?
Que o Bom Deus nos ajude, pela
intercessão da Santíssima Virgem, para que possamos verdadeiramente vivenciar a
Páscoa, a saída do estado de pecado para o estado de graça. Amém.
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