O Carmelo é, por definição, um jardim, cheio de beleza que clama pela Beleza Infinita. São João da Cruz já cantava: “Vamo-nos ver em tua Formosura”, isto é, na Formosura, na Beleza de Deus. 

          Num mundo onde se olha tanto os erros das pessoas que formam a Igreja, numa humanidade onde pesa tanto o individualismo, a manipulação das pessoas e tanto sofrimento, este é um aspecto “escondido” aos olhos de muitos, mas real e presente: a Beleza de Deus, a beleza de nossa fé, a maravilha de nossa esperança, a alegria do amor “que ninguém pode tirar”, e que só vem de Deus e para Ele retorna, através de nossa resposta de cada dia.

           Além da dimensão carmelitana de oração, súplica e sacrifício – a que é mais conhecida pelo povo – há, no Carmelo, a dimensão da gratuidade, da alegria, da contemplação e do gozo da Beleza de Deus. E isto transborda no canto, no júbilo. Dizer que o Carmelo da Sagrada Família está no seu ano jubilar é dizer isto: que é o momento de fazer memória das maravilhas de Deus em nossa vida, durante estes 70 anos! Fazemos nossas as palavras do salmista: “Alegria cantará sobre os meus lábios, e minha alma, libertada, exultará.” (Sl 70,8)

          É de Deus mesmo que nos vem este canto. Santo Agostinho afirma-o: “Eis que Deus te dá um modo de cantar: não procures palavras, como se pudesses explicar aquilo com que Deus se deleita. Canta na jubilação. É isto cantar bem para Deus, cantar na jubilação. Júbilo é um som a significar que do coração brota algo impossível de se expressar. E quem merece esta jubilação a não ser o Deus inefável? Alegre-se o coração sem palavras, e a imensidão das alegrias não conheça o limite das sílabas. Cantai para Deus com arte e com júbilo.”[1]

          Uma das formas de “materializar” nosso júbilo pelos 70 anos da graça de Deus na vida do Carmelo da Sagrada Família foi o CD “Contemplação e harmonia”.  Ele quer ser um convite ao júbilo, à gratidão, a elevar a Deus o coração numa prece sem palavras, na qual o júbilo proclama suas maravilhas e seu amor.

          É um convite para que cada pessoa possa olhar para sua própria vida e ver nela as “pegadas”, os vestígios de Deus, e constatar que para além de toda dor e de todo drama, está o amor indefectível de Deus, que nos aponta para o essencial, para o fim ao qual fomos criados: sermos louvor de glória da Santíssima Trindade.

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[1] SANTO AGOSTINHO. Comentário sobre os Salmos. Ps 32, sermo 1,7-8.